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Urgência hospitalar não pode depender do improviso e da “sorte”

 

A recorrente rutura dos serviços de urgência hospitalar é uma consequência da falta de pessoal, da falta de vagas nas unidades de cuidados intensivos e nas enfermarias e do corte dos meios de tratamento de situações de urgência e mesmo de emergência. Só não aconteceu uma tragédia maior nas urgências hospitalares por muita imaginação dos profissionais, que improvisam como podem, e por “sorte”. Onde anda a Comissão da Reforma Hospitalar?

A rutura dos serviços de urgência hospitalar não é assunto novo. Perpetua-se ao longo dos anos, num ritual que nenhum governo tentou travar até hoje. A novidade está na redução de recursos médicos, relativamente a anos anteriores, na desorganização da procura e na incapacidade progressiva de internamento dos doentes em condições de dignidade, ou seja, em cama hospitalar, nos hospitais que tinham resposta aceitável até aqui.

Os tempos de espera globais não são o único indicador da gravidade da situação. Muitos tempos de espera acima de 6 ou 10 horas referem-se a doentes que não deveriam ter recorrido a uma urgência hospitalar. Se existisse uma política de educação para a saúde e se o governo utilizasse meios de informação, especialmente os audiovisuais, seria possível demover situações que enchem as urgências, sem qualquer indicação para a elas recorrerem.

Trata-se, também, de uma questão que diz respeito ao modo como se gerem os serviços de saúde em situações epidémicas e como se adotam medidas efetivas para a sua prevenção. As epidemias de gripe são fenómenos expectáveis, sendo previsível o seu aparecimento e, consequentemente, as necessidades de saúde que precisam de ser satisfeitas. Prever implica organizar os serviços, aumentar a capacidade de oferta, descentralizar serviços, definir e estabelecer planos de contingência alocar recursos humanos e materiais. Enfim, gerir!

Grave é a falta de pessoal, a falta de vagas em unidades de cuidados intensivos e em enfermaria, a rutura de meios de tratamento de situações de urgência e também de emergência. Só não aconteceu uma tragédia maior nas urgências hospitalares por muita imaginação dos profissionais, que improvisam como podem, e por “sorte”. Como a sorte não é confiável, há que recorrer urgentemente a medidas a curto, médio e longo prazo.

A curto prazo: contratar mais meios humanos, suspender a desorganização criada pela legislação do anterior governo, que empurra o problema para os hospitais vizinhos, quando deveria reforçar os meios dos hospitais de proximidade, criar condições adequadas ao aumento da procura, devido ao envelhecimento da população, de meios tecnológicos e vagas de cuidados intensivos.

A médio prazo: reforçar os meios dos cuidados de saúde primários, com preenchimento de vagas suficientes para cada cidadão ter um médico atribuído. Definir critérios de acesso aos cuidados hospitalares, investigar e resolver procura excessiva por utentes com doença crónica não controlada, ou aguda sem gravidade. Reorganizar a rede hospitalar.

A longo prazo: educação e responsabilização.

Concluindo, uma pergunta urgente: onde anda a Comissão da Reforma Hospitalar? Não produziu nestes anos nada que se veja de útil, nem para este nem para outros problemas graves com que se debatem os hospitais. Não se vê, não se ouve, não se percebe.

Senhor ministro, precisa de ajuda para resolver este e outros problemas? Confie nas organizações médicas e de outras profissões da saúde. E demita a Comissão da Reforma Hospitalar, se ainda está viva. Em qualquer avaliação, chumbou. Não tem qualquer capacidade para continuar.

Sindicato dos Médicos da Zona Sul (FNAM)
Lisboa, 4 de Janeiro de 2018

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