Balanço do Conselho Nacional Extraordinário

Manuel Pizarro promove a desigualdade em vez da equidade nos médicos do SNS

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O Conselho Nacional (CN) da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) esteve hoje reunido em Coimbra, no segundo dia de greve nacional, para avaliar o pouco que ainda se sabe da proposta do Ministério da Saúde (MS). Na análise que foi possível fazer, uma vez mais sem estar na posse de qualquer documento articulado quando faltam 24 horas para a reunião negocial, o CN sublinhou as soluções que os médicos têm para que se consiga construir um acordo capaz de recuperar a carreira médica e salvar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Depois dos 85% do primeiro dia, o segundo dia de greve foi ainda mais significativo, com 90% de adesão, o que revela, uma vez mais, o descontentamento e a grande unidade dos médicos. Depois destes dois dias de greve, e de uma manifestação que, não obstante a intempérie, levou meio milhar de médicos à porta do MS, o CN da FNAM vê reforçada a sua capacidade para, de uma vez por todas, levar o Governo a legislar em função das necessidades dos médicos e do SNS, em detrimento da sua insistência na divisão da carreira médica em médicos de primeira e de segunda, desregulando uma mão cheia de direitos que salvaguardam os médicos, os doentes e a melhor prática clínica.

A FNAM só aceitará um acordo que responda às necessidades do SNS e que seja capaz de atrair e fixar os médicos. Os médicos estiveram e estarão sempre dispostos a sacrifícios pelos utentes para salvar o SNS, mas não podem fazer o impossível e ultrapassar a exaustão sem que haja um vislumbre de melhores condições de trabalho.

O Ministro Manuel Pizarro tem verbalizado habilmente na comunicação social, a manutenção da desigualdade em vez da equidade nos médicos. A abertura em negociar de Manuel Pizarro reflete-se na reposição da jornada das 35 horas, mas apenas para os médicos especialistas hospitalares que fazem serviço de urgência (SU). Além disso, na dedicação plena, mantém o aumento do trabalho suplementar para além dos limites legais de 150 horas, o aumento medieval da jornada diária de 8 para 9 horas, o fim do descanso compensatório após o trabalho noturno, e a inclusão do sábado como um dia de trabalho regular para os médicos que não fazem SU.

Por fim, o MS insiste num salário base sem equidade entre os médicos, sem a justa atualização, e sem garantir, transversalmente, a recuperação do poder de compra para todos, culminando numa fragmentação que em nada contribuirá para atrair e fixar médicos no SNS.

A FNAM mantém-se de boa fé em todo este processo, apesar de ser difícil recuperar a confiança num MS que não foi capaz, nos últimos 18 meses, de se aproximar das soluções que os médicos têm apresentado. Assinalamos ainda que o MS continua sem enviar as atas de reuniões passadas, os articulados dos diplomas da dedicação plena e das unidades de saúde familiar aprovadas unilateralmente, sem a concordância da FNAM, em Conselho de Ministros. Além disso, lamentamos que o MS privilegie a comunicação social para fazer chegar, de forma propagandista, algumas das que diz serem as suas intenções, escondendo a intransigência de dar com uma mão o que está a tirar com a outra, aos médicos e ao SNS.

A grande unidade dos médicos é, por esta altura, o melhor garante que não pode continuar tudo na mesma, pelo que, reafirmamos as formas de lutas programadas, possíveis de reverter quando o Governo estiver à altura de legislar de acordo com as necessidades dos utentes e do país, através da incorporação das soluções que médicos apresentam para salvar a carreira médica e o SNS.