Comunicados

FAQs sobre a Dedicação Plena

REGIME DE DEDICAÇÃO PLENA- ADESÃO OPOSIÇÃO E RENÚNCIA

  1. Em que circunstâncias é obrigatório o regime de Dedicação Plena (DP)?
  1. Posso opor-me ao regime de DP sendo este obrigatório?
  1. Qual a data limite para os médicos recusarem a DP?
  1. Caso o regime em questão não seja obrigatório na minha situação, é possível aderir mesmo assim?
  1. Qual é o prazo final para aderir voluntariamente à DP?
  1. Se me encontrar de baixa médica, o prazo para manifestar oposição à DP é suspenso?
  1. A manifestação de oposição é apenas exigida nas situações em que os médicos se encontrem sujeitos ao regime de DP? Se não houver tal obrigação ao regime, é necessário apresentar requerimento de oposição?
  1. Após submeter o pedido de recusa/oposição, é viável, posteriormente, aderir ao regime de DP?
  1. A adesão individual pode ser recusada?
  1. Os médicos internos podem aderir à DP?
  1. Existe algum limite para o número de médicos que podem aderir de forma voluntária à DP?
  1. Os médicos que trabalhem em Centros de Alcoologia ou similares estão abrangidos pela DP?
  1. Caso um médico recém-especialista expresse a sua oposição à DP conforme os termos legais, mas posteriormente assine um novo contrato de trabalho numa Unidade Local de Saúde (ULS), a validade da oposição é mantida no novo contrato?
  1. Os Coordenadores de unidades funcionais encontram-se obrigados a aderir?
  1. É possível transitar para o regime de DP no caso de um serviço sem urgência, sem suporte administrativo e sem a presença de outros profissionais de saúde não médicos aos sábados?

 DEDICAÇÃO PLENA-OUTROS REGIMES E CARREIRAS

  1. A dedicação exclusiva é incompatível com a DP?

VINCULOS CONTRATUAIS, ALTERAÇÃO DE REGIMES, REMUNERAÇÃO

  1. Os médicos sujeitos a DP terão de assinar novo contrato? Esse novo contrato será um Contrato Individual de Trabalho (CIT)?
  1. De que forma se conjuga este regime de DP com o acordo intercalar sobre os aumentos dos vencimentos dos trabalhadores médicos?
  1. Os médicos recém-especialistas, e que estão prestes a assinar contrato, iniciam funções no regime de DP?
  1. Como entra o suplemento remuneratório de 25% para o cálculo do valor da hora de trabalho suplementar?
  1. Os médicos detentores de CIT, que auferem remuneração fixa há já vários anos, em que posição são enquadrados ao aderirem à DP?

ACUMULAÇÃO DE FUNÇÕES

  1. O exercício da actividade privada no médico sindicalizado em regime de dedicação plena implica o pedido expresso de autorização prévia ou, basta nos termos do ACT a declaração sob compromisso de honra?
  1. Se optar pela DP, e caso obtenha autorização para acumular funções, há alguma limitação quanto ao número de horas permitidas para o exercício de atividade privada?
  1. Ao transitar para o regime de DP, devo suspender a prática de atividade privada até a obtenção de autorização para tal?
  1. Quando um médico tem uma empresa com o conjugue para prestação de serviços médicos (sociedade comercial por quotas) em que o único trabalhador é o médico, é incompatível?

HORÁRIOS E TEMPOS DE TRABALHO

  1. As horas complementares (+5 horas) são incluídas no limite das 250 horas extraordinárias?
  1. Qual o limite máximo de trabalho diário em dedicação plena?
  1. Existe um limite máximo de horas suplementar permitidas por semana na DP?
  1. A contabilização das horas de urgência é feita semanalmente, mas se um médico está integrado num Serviço com rotação de urgências em 8 semanas, em que numa delas não há urgência, como é feito o horário?
  1. O horário de 40 horas em Dedicação Plena obriga ao cumprimento integral desse horário em todas as semanas ou a uma média em 8 semanas?
  1. É possível integrar o regime de DP mantendo parte do horário de trabalho em regime de teletrabalho?
  1. A jornada contínua é aplicável no regime de DP?
  1. É possível aderir ao regime de DP enquanto estiver na modalidade de trabalho a tempo parcial? E em regime de horário flexível?
  1. Para os médicos hospitalares que não realizem serviço de urgência, a DP implica a prestação de 40 ou 45 horas semanais?
  1. No regime de DP, a que se destinam as 5 horas adicionais para os médicos que prestam trabalho em serviços de urgência?
  1. Na semana em que se cumpre horário ao sábado, é obrigatório realizar as 5 horas complementares após as 17 horas?
  1. Existe alguma obrigatoriedade de cumprir horário aos fins de semana?
  1. A prestação das 5 horas complementares pode ser esgotada num só dia, ou tem que ser distribuída pelos dias da semana?

PARENTALIDADE, REGIMES

  1. Ao optar pelo regime de DP, perdem-se os direitos decorrentes da parentalidade, tais como trabalho a tempo parcial, horário flexível, dispensa de prestação de trabalho noturno, dispensa de trabalho suplementar e dispensa para amamentação ou aleitação?

SERVIÇO DE URGÊNCIA

  1. É possível ser designado/a para realizar serviço de urgência num estabelecimento de saúde que se situe até 30 km de distância? E, nesse contexto, posso ter de prestar urgência geral ou só da minha especialidade?
  1. Os médicos em CIT que realizam 12 horas de serviço de urgência, ao aderir à Dedicação Plena terão de cumprir 18 horas ou é possível manter as 12 horas de serviço de urgência?
  1. Na DP é permitido prestar uma carga horária de 24 horas nos Serviços de Urgência?

DISPENSA DE TRABALHO NOTURNO E DE SERVIÇO DE URGÊNCIA

  1. A adesão à DP implica a renúncia à dispensa de trabalho em serviço de urgência para os médicos com 55 ou mais anos? E quanto à dispensa de prestação de trabalho noturno para médicos que atinjam os 50 anos de idade?

REDUÇÃO DE HORÁRIO EM FUNÇÃO DA IDADE – REGIME 42H E D.E.

  1. A adesão à DP resultará na perda da bonificação de horário em função da idade para aqueles que já a possuem no regime de dedicação exclusiva?

DESCANSOS COMPENSATÓRIOS

  1. A adesão à DP implica a perda do direito ao descanso compensatório?
  1. A adesão à DP implica a perda do direito ao descanso compensatório pelo trabalho prestado aos domingos e feriados?
  1. No regime de DP, após uma noite de prevenção, o médico tem direito ao descanso compensatório, mesmo que sem prejuízo de horário?
  1. Considerando que, no regime de DP, os descansos compensatórios não implicam prejuízo de horário, como será feita a compensação de horário para um médico que realiza duas ou três urgências por semana?
  1. No regime de DP, o horário não realizado em virtude do gozo de descanso compensatório após urgência tem de ser realizado na mesma semana em que a urgência é feita ou pode ser realizado nas semanas seguintes?
  1. No regime de DP, considerando que o horário não realizado em virtude do gozo de descanso compensatório após urgência tem de ser realizado na mesma semana em que a urgência é feita pode ter que ser realizado a um sábado ou domingo?
  1. As horas referentes aos descansos compensatórios pelo trabalho noturno devem ser restituídas na mesma semana ou podem ser distribuídas ao longo de um período de 8 semanas?
  1. Se não for possível compensar nas semanas subsequentes, haverá acumulação de horas negativas?

SIADAP, PROGRESSÃO

  1. É viável a progressão na carreira no âmbito do regime de DP?

DIRETORES DE SERVIÇO

  1. A renúncia à DP por parte dos Diretores de Serviço implica, simultaneamente, a renúncia à direção do serviço?
  1. Os Diretores de Serviço estão obrigados a cumprir as 5 horas complementares de atividade assistencial após as 17 horas nos dias úteis e, pelo menos, uma vez ao sábado, ou estão isentos dessa obrigação?
  1. É obrigatório para os Diretores de Serviço, que possuem um contrato de trabalho em funções públicas de 42 horas em regime de exclusividade, aderir à Dedicação Plena?
  1. Os suplementos remuneratórios pela função de direção de serviço ou por atividade assistencial são cumulativos com o regime de DP?
  1. No caso de um Diretor de Departamento e de Serviço que adere à DP, há a possibilidade de sair desse regime a qualquer momento? E, se sim, para qual regime retoma?
  1. Ser gerente de uma sociedade por quotas que presta cuidados de saúde é incompatível com o regime jurídico de DP para os Diretores de Serviço?

CENTROS DE RESPONSABILIDADE INTEGRADOS

  1. Os médicos que integrem Centros de Responsabilidade Integrados (CRI) ficam sujeitos, automaticamente, ao regime de DP?
  1. Os médicos a desempenhar funções em CRI já existentes estão obrigados a aderir à DP?
  1. Não sendo obrigatória a DP para os CRI existentes, mostra-se necessário, ainda assim, submeter o requerimento de oposição?
  1. Se o meu serviço se converter num CRI, estou obrigado/a aderir à DP? Existe a possibilidade de oposição?
  1. No caso do estabelecimento de saúde pretender criar um CRI num determinado serviço, se a totalidade do serviço recusar a adesão à DP, quais são as implicações? Estarão os médicos sujeitos à obrigação de deixar o Hospital?

MÉDICOS DE SAÚDE PÚBLICA

  1. Caso o médico opte pela DP e, posteriormente, pretenda retomar ao regime de origem, voltará a receber o suplemento de 800€?
  1. Os Diretores de Departamento de Saúde Pública têm de aderir obrigatoriamente à DP?
  1. Cessando a aplicabilidade da DP, pode o médico de saúde pública retomar a prestação de trabalho no seu regime de origem?
  1. Se a ULS tiver apenas um médico de Saúde Pública em DP, esse médico considera-se escalado ad eternum?
  1. No regime da DP, o médico escalado tem direito à remuneração somente se prestar trabalho efetivo durante a escala?
  1. O médico que adira à Dedicação Plena pode colaborar com a DGS?
  1. O horário de funcionamento das 08h às 20h implica que a USP permaneça aberta durante todo esse período?
  1. Ser chamado implica a existência de registo biométrico? Como é validado o tempo de trabalho na ausência desse registo?
  1. Os médicos de Saúde Pública que laborem noutras instituições (INEM, DGS, INSA) também serão incluídos no regime de DP?
  1. Se um médico Interno de Saúde Pública manifestar a sua oposição à DP de acordo com os termos legais, mas posteriormente, já como Assistente, assinar um contrato de trabalho, a oposição permanece válida?

UNIDADES DE SAÚDE FAMILIAR

  1. Se eu optar por manter-me em Dedicação Exclusiva ao invés de aderir à DP, será necessário deixar a USF? Serei transferido para uma Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) ou manteria a disponibilidade na instituição atual?
  1. É possível para aqueles médicos que já integram uma USF modelo B rejeitar a DP e, ainda assim, permanecer na USF?
  1. Exerço funções numa USF modelo A em regime de mobilidade, se recusar a DP, serei obrigado a retornar à instituição de origem (UCSP)?
  1. Na DP inclui-se um horário de atividade assistencial não presencial?
  1. Exerço funções numa USF que irá transitar a modelo B, e tenho um contrato de trabalho de 40 horas semanais reduzido para 30 horas. Atendendo a que não conseguirei dar resposta ao número total de utentes da minha lista, devido ao horário reduzido, como será remunerado o suplemento de 25% nesta situação?

APOSENTAÇÃO, REFORMA E REGIMES DE PROTEÇÃO NA DOENÇA

  1. A suspensão dos regimes de origem quando incompatíveis com a DP para contratos de trabalho em funções públicas com ADSE E CGA, implica a suspensão ou extinção destes sistemas de proteção na saúde e aposentação para o médico aderente?
  1. A suspensão dos regimes de origem quando incompatíveis com a DP para contratos individuais de trabalho com ADSE, implica a suspensão ou extinção deste sistema de proteção na saúde para o médico aderente?

 

            17 de janeiro de 2024 

            O Departamento Jurídico da FNAM


AS RESPOSTAS ÀS 81 FAQs SOBRE A DEDICAÇÃO PLENA PODEM SER LIDAS CLICANDO NAS QUESTÕES OU AQUI.   

MINUTAS DE DECLARAÇÃO DE OPOSIÇÃO À APLICAÇÃO DO REGIME DE DEDICAÇÃO PLENA

PARA A DIREÇÃO DE SERVIÇOS OU DEPARTAMENTOS HOSPITALARES 

PARA OS (ATUAIS) MÉDICOS DE SAÚDE PÚBLICA 

PARA OS (NOVOS) MÉDICOS DE SAÚDE PÚBLICA

PARA AS UNIDADES DE SAÚDE FAMILIAR

PARA OS CENTROS DE RESPONSABILIDADE INTREGRADA (CRI)

OUTRAS MINUTAS

PARA DECLARAÇÃO DE ACUMULAÇÃO DE FUNÇÕES

Carta aberta por melhores cuidados

A qualidade da medicina e da prática médica têm um papel fundamental na Saúde em Portugal. A sua falta compromete largamente a prestação de cuidados de saúde, com prejuízo para os doentes. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma das grandes conquistas da nossa democracia. É o pilar essencial na resposta às necessidades em saúde e um fator de estabilidade e coesão social incontornável.

O SNS proporciona um sistema de igualdade e equidade em saúde para os doentes, seja qual for a sua situação económica ou social, encurta distâncias para as zonas mais desfavorecidas do país e possibilita o tratamento de doenças cada vez mais complexas. Infelizmente, nos últimos anos, assistimos à degradação do SNS a um ritmo acelerado, com graves consequências para a saúde da população.

Diariamente, somos confrontados com notícias de urgências encerradas com riscos evidentes para a saúde e para a vida. A falta de acesso a um serviço de urgência operacional e bem estruturado pode ser a diferença entre uma vida salva ou perdida. Somos também constantemente confrontados com filas intermináveis para a marcação de consultas, com listas de espera cada vez maiores para cirurgias e com a ausência de médicos de família para 1,6 milhões de pessoas, um número com tendência a aumentar.

O SNS é uma conquista que deve ser preservada e mesmo fortalecida. Mantém-se a materialização de um sonho de liberdade e esperança.

A aposta na literacia, na prevenção da doença e na promoção da saúde têm de ser prioridades máximas das reformas necessárias. É fundamental investir na melhoria contínua dos cuidados de saúde para todos e, simultaneamente, promover melhores condições de trabalho, de formação e de investigação capazes de desenvolver o sistema de saúde, fomentar uma cultura de humanização dos serviços e simultaneamente de maior transparência. O SNS é um património de todos os portugueses, que, para o seu sucesso e sustentabilidade, temos de preservar e melhorar em conjunto.

A degradação do SNS está também a afetar a qualidade da formação médica e a afastar cada vez mais médicos do serviço público. Para atrair e fixar médicos no SNS, é essencial criar condições de formação adequadas para os futuros especialistas que vão faltando nos centros de saúde e hospitais.

A Ordem dos Médicos tem tido uma intervenção determinante na qualidade do exercício da medicina e da formação médica nos últimos 85 anos. Qualidade essa que a atual revisão do Estatuto da Ordem dos Médicos está a pôr em causa.

Segundo o Presidente da República, ao afastar a Ordem dos Médicos do processo formativo, “compromete-se a qualidade da formação destes profissionais no futuro e, consequentemente, a qualidade dos cuidados médicos e a segurança dos doentes, bem como a própria organização e estabilidade do SNS.” A Ordem dos Médicos reitera a intenção de validar os títulos de especialista ou outros de formação pós-graduada, obtida nos serviços públicos, desde que mantenha o seu elevado nível de qualidade formativa.

Assim, na defesa da qualidade técnico-científica da medicina e da formação médica, pela defesa intransigente da qualidade dos cuidados de saúde e do SNS, apelamos à Assembleia da República a melhor atenção ao Decreto n.º 97/XV, de forma a que sejam preservados os atuais padrões da formação médica e a salvaguardada da independência da Ordem dos Médicos.

Subscrevem: Carlos Cortes, Eurico Castro Alves, Manuel Teixeira Veríssimo, Paulo Nascimento Simões, Alberto Caldas Afonso, Patrícia Pacheco, Altamiro da Costa Pereira, André Rosa Biscaia, António Sarmento, António Rendas, Carla Rêgo, Carlos Mota Cardoso, Carlos Robalo Cordeiro, Henrique Cyrne Carvalho, Daniela Seixas, Duarte Nuno Vieira, Maria de Fátima Laureano, Fausto J. Pinto, Fernando Póvoas, Filipe Froes, Francisco George, Germano de Sousa, Helena Canhão, Isabel do Carmo, Isabel Fragata, Joana Bordalo e Sá, João Miguel Grenho, Joaquim Murta, José Fragata, Joshua Ruah, Júlio Machado Vaz, Luís Campos Pinheiro, Manuel Mendes Silva, Manuel Sobrinho Simões, Maria do Céu Machado, Mário Jorge Santos, Miguel Castelo-Branco, Miguel Guimarães, Miguel Leão, Miguel Oliveira da Silva, Nuno Jacinto, Pedro Nunes, João Queiroz e Melo, Jorge Roque da Cunha, Rui Nunes, António Vaz Carneiro, António de Sousa Pereira *

* Em atualização

Balanço de 2023

O ano de 2023 foi de grande intensidade para a comunidade médica, e nós, na FNAM, somos bem testemunhas disso. A luta sindical começou logo no início do ano quando, perante o bloqueio do processo negocial, tivemos de convocar a primeira greve em março e desenvolvemos ações até ao fim do ano, na defesa da nossa profissão e do Serviço Nacional de Saúde (SNS). 

A greve dos médicos de março foi a primeira de várias greves que se multiplicaram no verão, com destaque para a que decorreu durante as Jornadas Mundiais da Juventude, em agosto, às que se seguiram  em outubro e em novembro. Estas greves  demonstraram a união dos médicos na luta por salários justos e condições de trabalho dignas no SNS, e o necessário  equilíbrio entre a vida profissional,  pessoal e familiar. 

Além das greves com adesões acima dos 80% e manifestações muito participadas que as acompanharam, regionais e nacionais, nos hospitais e em frente ao Ministério da Saúde, lançámos, no final de maio, as declarações de indisponibilidade em realizar mais do que o limite legal das 150 horas suplementares anuais, de que dependem em larga escala os serviços de urgência de norte a sul do país. Esta ação ganhou vida para lá das fronteiras da FNAM, numa lógica de construção unitária e sem sectarismos. Nós, médicos, demonstramos que estamos unidos na valorização da nossa profissão e carreira, e na defesa do SNS.

No último quadrimestre do ano a FNAM percorreu o país, numa caravana que iniciou com a flashmob no simpósio da Organização Mundial da Saúde, no Porto, e passou por cerca de trinta  unidades de saúde do SNS, onde demos conta das condições de trabalho cada vez mais degradadas dos médicos. Fizémos vários webinars para esclarecimento sobre a dedicação plena, um novo regime de trabalho, que foi legislado unilateralmente sem o acordo dos médicos, que fere a Constituição da República Portuguesa e as diretivas do direito do trabalho europeu. 

Por fim, organizámos as Jornadas Ibéricas, uma cimeira sindical onde contámos com os nossos congéneres espanhóis da Confederación Estatal de Sindicatos Médicos (CESM) e fomos até Bruxelas reunir com eurodeputados e a equipa da Comissária Europeia para a Saúde. Em Bruxelas,  fizemos um retrato das condições laborais dos médicos, entregámos as soluções da FNAM para as melhorar e apresentámos um manifesto internacional na defesa de serviços públicos de saúde.

A população em Portugal passou a perceber que os médicos trabalham, em média, mais 4 meses do que a generalidade dos profissionais da saúde e restante  administração pública, e que os médicos não aceitam perda de direitos laborais que coloquem em risco a sua segurança, mas acima de tudo, a dos próprios utentes. O país percebeu ainda que os médicos em Portugal foram a classe profissional que mais poder de compra perdeu na última década, que somos dos médicos mais mal pagos a nível europeu, e que a nossa luta não é corporativa, mas sim para parar a sangria de médicos do SNS para a emigração, sector privado e/ou prestação de serviços. 

Este governo, agora em gestão, após a crise política instalada no fim deste ano, não foi capaz de tecer uma negociação séria com os médicos ao longo de 19 duros meses. O Ministério da Saúde, liderado por Manuel Pizarro, não teve vontade política, nem competência, para firmar um bom acordo com os médicos, capaz de os atrair e fixar no SNS, mas foi capaz de fazer com que mais médicos saíssem do SNS e lançar o caos nos vários serviços de urgência, com encerramentos e contingências em todo o país, por falta de médicos.

Fechamos este pequeno balanço de 2023 com uma palavra especial aos novos associados da FNAM, que se juntaram ao longo do ano e ao ritmo do processo de luta. Em 2024 todos os médicos podem contar com a FNAM no apoio ao dever de cumprir com a Lei, para não excederem o limite legal anual do trabalho suplementar e para declinarem qualquer responsabilidade sempre que estejam perante condições inadequadas ao exercício da prática clínica, assim como combateremos os atropelos laborais e assédio nos vários locais de trabalho, com apoio dos nossos serviços jurídicos. 

A FNAM olha ainda com especial atenção para os médicos internos, que são um terço da força de trabalho no SNS, e vai continuar a lutar pela reintegração do internato médico na carreira médica. Reiteramos: sem médicos não é possível manter um SNS, que a FNAM luta para que seja universal, acessível e de qualidade e para toda a população.

Uma palavra final de reconhecimento para os Órgãos de Comunicação Social, em especial os jornalistas que estiveram responsáveis pelo acompanhamento do complexo tema da Saúde, cujo trabalho foi fundamental para a boa compreensão pública de tudo o que envolveu a luta dos médicos em defesa do SNS.

Vídeo com os principais momentos de 2023

Webinar de 4 de janeiro

A FNAM organiza mais um webinar, desta feita de esclarecimento sobre o Decreto-Lei da Dedicação Plena para Médicos Hospitalares.

Contaremos com a participação do departamento jurídico da FNAM, para que todos os colegas tenham consciência da realidade legislativa e coloquem as dúvidas que tenham sobre o assunto.

O webinar terá lugar na próxima quinta-feira, dia 4 de janeiro, a partir das 18h00, e pode ser acedido aqui.

NOTA: O Webinar está disponível na íntegra no youtube da FNAM.

Declaração de declinação de responsabilidade funcional

O encerramento e condicionamento de quase metade dos Serviços de Urgência (SU) de norte a sul do país, foi algo que se tornou trivial neste Ministério da Saúde liderado por Manuel Pizarro, que não teve a competência de conseguir atrair e fixar médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), num ano em que o número de médicos reformados atingiu o pico de 822. Os médicos estão sobrecarregados, sem condições adequadas ao exercício das suas funções e a praticar “medicina de catástrofe” em vários SU onde um volume excessivo de doentes dá entrada na última semana do ano.

As insuficiências multiplicaram-se durante o Natal, e teme-se o pior para os últimos dias do ano, onde os períodos após as celebrações são tradicionalmente mais exigentes para os SU. A falta de médicos no SNS continua a falar mais alto do que o ilusionismo do Ministério de Manuel Pizarro, que insiste em anunciar o regresso de uma normalidade que só existe no seu imaginário.

Destacamos situações que costumam funcionar abaixo dos mínimos que colocam médicos e doentes em risco como o SU do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUdSA), no Porto, onde médicos internos têm sido forçados a colmatar a falta de médicos especialistas. Há dias com um único médico interno a assegurar urgência externa de Medicina Interna, e em simultâneo pelo menos 140 doentes internados a cargo dessa especialidade, sem médico especialista na escala de urgência interna, situação que se prevê que se mantenha a partir de janeiro. Além disso, no CHUdSA, os médicos têm sido vítimas de desregulação ilegal dos seus horários, com 6 dias de trabalho semanal, sem que lhes seja concedido o descanso compensatório após a realização de trabalho aos domingos e feriados. Por fim, no CHUdSA, ainda está por regularizar o pagamento da majoração do trabalho suplementar aos internos e dificulta a marcação de estágios opcionais fora da instituição, prejudicando assim a formação dos seus internos e sacrificando a mais-valia que representaria para a própria instituição.

Temos também a situação do Hospital de Leiria, no Centro, que se tornou particularmente grave com médicos a praticar “medicina de catástrofe”, e durante o fim de semana que terminou no dia de Natal, com serviços dependentes de apenas dois médicos especialistas e dois internos de formação geral, que não têm a experiência necessária para, com a necessária segurança para os doentes, praticarem atos médicos de forma autónoma. Durante a noite da véspera de Natal todo o hospital esteve entregue a 1 especialista, 2 generalistas e a 2 internos do 1º e do 2º ano. Todas as outras especialidades de urgência estavam encerradas: Cardiologia, Ginecologia, Cirurgia, Pediatria. A Medicina Interna esteve fechada desde a noite de 24, e mesmo assim não pararam de chegar urgências por meios próprios e doentes por ambulâncias sem contacto com CODU, aumentando o risco médico-legal para os médicos e a segurança dos doentes.

A Sul, no Algarve, há alguns SU a alternar entre os hospitais de Faro e de Portimão, sem capacidade de assegurar o funcionamento em simultâneo. É o caso da Pediatria, da Ginecologia-Obstetrícia, da Gastrenterologia e, mais recentemente, da Urologia.

A FNAM disponibiliza aos médicos uma declaração de declinação de responsabilidade funcional (declaração disponível aqui) com o objetivo de rejeitar toda e qualquer responsabilidade decorrente da prática de atos médicos, sempre que estejam perante condições inadequadas ao exercício das suas funções, circunstancialismo que, de forma isolada ou conjuntamente, condiciona, objetivamente, a garantia do cumprimento das leges artis, considerando os serviços médicos a prestar aos doentes.

Por fim, a FNAM mantém a defesa das condições laborais dos médicos, como garante do SNS e desafia o próximo Governo a ter a sensatez de assumir uma negociação séria e competente, para um acordo que garanta salários justos e condições de trabalho dignas para dotar o SNS de médicos nas várias especialidades.

DECLARAÇÃO DE DECLINAÇÃO DE RESPONSABILIDADE FUNCIONAL

Mensagem de Boas Festas


A FNAM deseja Boas Festas a todos os seus membros, familiares e amigos, à comunidade médica, hospitalar e de saúde, aos utentes, e a todos os que, connosco, têm lutado pelo futuro do Serviço Nacional de Saúde. Saudamos também as nossas congéneres internacionais, as organizações políticas, sindicais e sociais que têm apoiado a luta pelo futuro da nossa profissão, salários justos e condições de trabalho dignas. Por fim, saudamos especialmente os médicos internos e especialistas que, nesta quadra festiva, asseguram os serviços de saúde à população no SNS. No próximo ano, seja qual for o governo escolhido a 10 de março, retomaremos o caminho capaz de ser portador da mudança de paradigma para que o SNS, um dos pilares da nossa democracia, seja salvaguardado como universal, acessível, de excelência, e capaz de continuar a proteger a saúde de toda a população.

 

FNAM wishes happy holidays to all its members, family and friends, also to the medical, hospital and health community, National Health Service (NHS) users, and everyone who fights alongside us for the NHS's future. We salute our international counterparts, trade union, political and social organizations that have supported medical doctor’s struggle in Portugal for fair wages and better working conditions. Finally, we especially praise all medical doctors residents and specialists who, working during this festive season, provide health services to the population. After next government polls on March 10, we will harden the fight to dignify our profession and secure doctors in the NHS, which is one of our democracy pillars, that must be safeguarded as universal, accessible, of excellence to protect our population's health care.

Sem internos não há SNS

Os médicos internos não podem continuar a ser esquecidos, acordo atrás de desacordo, desacordo atrás de acordo. Ignorados em geral pelos sucessivos governos das duas últimas décadas, e este último em particular, continuam sem ver o internato reconhecido como parte integrante da carreira médica, têm salários incapazes de sustentar o custo de vida e assistem, paulatinamente, à desvalorização da sua formação e especialização médica.

Quando a falta de capacidade de resposta, sobretudo ao nível do serviço de urgência (SU), começou a ser indisfarçável, os médicos internos foram as primeiras vítimas, passando a recair sobre os seus ombros ainda mais responsabilidade, associada ao sacrifício da qualidade da sua formação, fruto da sobrecarga de trabalho.

Os médicos internos foram forçados à deslocação abusiva entre diferentes unidades de saúde para assegurar o funcionamento de SU e acesso da população a cuidados de saúde. Além disso, foram pressionados a assegurar escalas de SU externa para além do limite legal anual do trabalho suplementar, assim como a fazer urgência interna de áreas fora do âmbito do seu programa formativo, em desacordo com os seus conhecimentos, qualificações e competências. Para cúmulo, há falta de pagamento da majoração devida das horas suplementares.

De modo ilegal e persistente, a constituição das equipas de urgência tem estado abaixo dos mínimos previstos pela Ordem dos Médicos, e não raras vezes sem médicos especialistas no período noturno. Não podem ser os internos, desacompanhados no exercício das suas funções, os responsáveis por colmatar a falta de especialistas. Assim, vários Conselhos de Administração (CA) levam ao incumprimento das leges artis e, consequentemente, a qualidade, a prontidão e o rigor do ato médico, colocando uma vez mais em risco a segurança dos doentes e a efetivação do direito fundamental à proteção da saúde que a Constituição protege.

Cumulativamente, muitos internos viram alterações ilegais dos seus horários de trabalho, a prestação de seis dias por semana, sem direito aos dois dias de descanso semanal, obrigatório e complementar. E, em algumas instituições, não está a ser concedido o direito ao descanso com prejuízo de horário nos oito dias seguintes após trabalho efetuado aos domingos e feriados. Por último, muitos CA dificultam a aprovação de estágios dos médicos internos, se realizados fora da unidade onde estão a frequentar o internato médico.

Os números publicados ontem pela Ordem dos Médicos, relativos ao impacto do burnout entre os médicos internos, onde um em cada quatro jovens médicos apresenta sintomas graves de burnout e 55,3% está em risco de desenvolver a síndrome, são um sinal revelador e alarmante, reflexo dos abusos laborais a que os médicos internos são sujeitos.

A FNAM, através dos seus três sindicatos, tem desenvolvido ações para reverter o abuso a que muitos médicos internos são sujeitos nos seus locais de trabalho. E tem vindo a batalhar para a integração dos médicos internos no primeiro patamar da carreira médica, uma vez que eles são um terço dos médicos no SNS, assegurando, em boa medida, a capacidade de resposta do próprio SNS. Continuaremos a nossa luta pela defesa dos direitos de todos os médicos com a convicção que se impõe uma resposta adequada à realidade dos internos, não só na sua valorização salarial, mas sobretudo na sua valorização técnica e humana.

Ao futuro governo sugerimos que dê início a negociações urgentes à primeira hora do seu mandato, de forma a não desperdiçar o tempo que o mais recente Ministro da Saúde perdeu ao longo de 19 meses de negociações, sem competência para salvar a carreira médica, concretizando, também, as soluções que a FNAM tem para o Internato Médico, cujos profissionais serão o futuro do SNS.

Saudação à nova direção da ANEM

Em nome da FNAM cumprimentamos os representantes da ANEM, em especial a nova direção agora empossada e todos os estudantes de medicina.

É com grande alegria que apreciamos o crescente do associativismo juvenil e do associativismo médico, e o comprometimento das novas gerações com a defesa da profissão e do trabalho médico.

A FNAM através dos seus três sindicatos (Sindicato dos Médicos do Norte, da Zona Centro e Sul) converge a sua ação para a defesa unida e consistente do trabalho médico, com especial atenção à defesa e reforço do papel do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O SNS trouxe profundos ganhos em saúde e qualidade de vida para toda a população em Portugal. É um pilar da sociedade e da democracia, uma pedra angular das carreiras médicas, e consequentemente da formação médica. Num ano de duras batalhas pelo direito à saúde e ao trabalho com direitos no nosso serviço de saúde, recordamos que sem médicos diferenciados, motivados e dedicados ao SNS, não pode haver formação pré nem pós-graduada de qualidade, pois só a competência e disponibilidade dos mais graduados garante a capacidade formativa dos mais jovens, num círculo virtuoso que não pode ser quebrado.

A FNAM, e os sindicatos que a compõem, afirma-se neste fórum e a todo o momento como parceiros disponíveis, tanto no trabalho conjunto com as demais associações médicas, como (e sobretudo) no apoio a todos os projetos a que, com entusiasmo e motivação, se proponham os estudantes de medicina e os médicos internos.

Estabelecemos no último ano parcerias com a maioria das associações de estudantes, com inúmeras outras associações estudantis e associações de médicos internos, criando notáveis sinergias. Parcerias que muito nos aportaram e que desejamos fortalecer nos anos futuros.

Criamos ainda um Fundo de Apoio à Formação do Médico Interno dedicado a promover a formação médica pós-graduada de qualidade e que pode apoiar no presente ano todos os médicos a que a ele concorrem.

Desejamos toda a energia aos órgãos sociais agora empossados, e reafirmamos a nossa vontade de vos acompanhar no caminho que aqui se inicia.

Porto, 17 de dezembro de 2023

Alice Jeri - Conselho Nacional da FNAM

Joana Bordalo e Sá - Presidente da Comissão Executiva da FNAM

Manifesto Internacional

Em defesa de condições de trabalho dignas para os médicos

O direito à Saúde é uma conquista histórica, fruto da luta de muitas gerações, reconhecido em 1948, quando passou a constar na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas: “todos os seres humanos têm direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhes e à sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis”.

O sucesso do combate à pandemia da Covid-19 em todo o mundo, que salvaguardou a vida de milhões de pessoas, deveu-se ao trabalho árduo dos médicos e demais profissionais de saúde, demonstrando, uma vez mais, serem os pilares essenciais nos serviços de saúde das nações.

Os cuidados públicos de saúde estão sob forte ameaça em todo o mundo, sendo alvo do progressivo e enorme desinvestimento dos diferentes governos, conduzindo ao seu progressivo desmantelamento, para que interesses económicos se instalem sem concorrência pública, resultando no aumento das despesas em saúde para a maioria dos cidadãos.

A dificuldade em fixar médicos é transversal a vários países, que se traduz na migração para o sector privado e para países diferentes daqueles de que são originários, na expectativa de encontrarem melhores condições de trabalho e salários justos, condizentes com a sua formação e responsabilidade.

No relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) “Crescimento zero em gastos com saúde – quais países e quais setores mais afetados?” [“Health Spending Growth at Zero - Which countries, which sectors are most affected?”], são sublinhados os importantes cortes ocorridos em países como a Estónia, a Irlanda, a Hungria e Portugal, bem acima das metas impostas pela troika (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia) no tempo da austeridade. No entanto, mais de uma década depois, continuamos sem recuperar da perda do poder de compra.

Nós, os médicos que subscrevem este manifesto, lutamos para que nos nossos países haja investimento sério na valorização da nossa carreira. Urge um plano para fixar médicos nos vários países, com salários justos em linha de conta com o custo de vida e a inflação, com horários e condições de trabalho dignos, que reduzam o burnout e permitam conciliar a vida profissional, pessoal e familiar.

Nós, médicos em Portugal, Espanha e outros, vimos através deste manifesto exigir aos Governantes que estejam à altura das responsabilidades, e apelar aos cidadãos para tomarem como sua a nossa luta, na valorização da carreira médica e na defesa de serviços de saúde de acesso universal, robustos e de qualidade, com a prática de uma medicina centrada nas reais necessidades dos cidadãos e com políticas de saúde pública eficientes.

 

Towards the defense of decent working conditions for medical doctors

The right to Health is a historic achievement, as a result of the struggle of many generations, and recognized in 1948 by the UN, as part of the Universal Declaration of Human Rights: “all human beings have the right to a standard of living capable of ensuring them and their family, health and well-being, including food, clothing, housing, medical care and basic social services”.

The success of the fight against the Covid-19 pandemic around the world, which saved the lives of millions of citizens, was due to the hard work of medical doctors and other health professionals, showing, once again, that they are essential pieces in every nation's health service.

Public health care is under strong threat around the world, because of the progressive disinvestment by governments, aiming the gradual dismantlement so that economic interests can be established without public competition and scrutiny, resulting in the increase of health expenses for most of the citizens.

The difficulty in fixing doctors in the public sector is transversal to several countries, and we are witnessing the migration of doctors either to the private sector or abroad, seeking better working conditions and fair salaries, according to their training and responsibility.

In the Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) report “Health Spending Growth at Zero - Which countries, which sectors are most affected?”, major and severe cuts were detected  in countries such as Estonia, Ireland, Hungary and Portugal, well above the targets imposed by the Troika (European Central Bank, International Monetary Fund and the European Commission) during the austerity years. However, more than a decade later, we still have not recovered from the loss of purchasing power.

We, the medical doctors subscribing this manifesto, are struggling for effective investments in our careers in our countries. A plan is urgently needed to attract medical doctors in their countries, with fair salaries in line with the cost of living and inflation, but also with decent working hours and conditions, allowing the reduction of the burnout, and the reconciliation of professional, personal, and family life.

We, medical doctors in Portugal, Spain and others, came through this manifesto to demand that Governments live up to their responsibilities, and to appeal to citizens to take our struggle as their own, in valuing the medical career and in defending universal access to health services, a robust and quality healthcare, with the practice of medicine centered on the real needs of citizens ,based in efficient public health policies.

 

En defensa de condiciones laborales dignas para los médicos

El derecho a la Salud es un logro histórico, resultado de la lucha de muchas generaciones, reconocido en 1948, cuando pasó a formar parte de la Declaración Universal de Derechos Humanos de las Naciones Unidas: “todos los seres humanos tienen derecho a un nivel de vida capaz de garantizarles a ellos y a sus familias la salud y el bienestar, incluidos la alimentación, el vestuario, la vivienda, la atención médica y los servicios sociales esenciales”.

El éxito del combate a la pandemia de Covid-19 en todo el mundo, que salvó la vida de millones de personas, se debió al arduo trabajo de los médicos y otros profesionales de la salud, demostrando, una vez más, que son pilares esenciales en los servicios de salud de las naciones.

La sanidad pública se encuentra bajo una fuerte amenaza en todo el mundo, siendo objeto de progresivas y enormes desinversiones por parte de los distintos gobiernos, lo que lleva a su progresivo desmantelamiento, de manera que los intereses económicos se instalan sin competencia pública, lo que se traduce en un aumento del gasto sanitario para la mayoría de los ciudadanos.

La dificultad para retener médicos es transversal a varios países, lo que se traduce en migración al sector privado y a países distintos a aquellos de donde son originarios, con la expectativa de encontrar mejores condiciones laborales y salarios justos, acordes con su formación y responsabilidad.

En el informe de la Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económicos (OCDE) “Crecimiento cero en el gasto en salud: ¿qué países y qué sectores son los más afectados?” [“Health Spending Growth at Zero - Which countries, which sectors are most affected?”], se destacan los importantes recortes ocurridos en países como Estonia, Irlanda, Hungría y Portugal, muy por encima de los objetivos impuestos por la troika (Banco Central Europeo, Fondo Monetario Internacional y Comisión Europea) en tiempos de austeridad. Sin embargo, más de una década después, todavía seguimos sin recuperar de la pérdida de poder adquisitivo.

Nosotros, los médicos que suscribimos este manifiesto, luchamos para que en nuestros países exista una inversión seria en el desarrollo de nuestras carreras. Se necesita urgentemente un plan para retener médicos en los varios países, con salarios justos y acordes con el coste de la vida y la inflación, con horarios y condiciones de trabajo decentes, que reduzcan el burn out y permitan la conciliación de la vida profesional, personal y familiar.

Nosotros, los médicos de Portugal, España y otros, venimos a través de este manifiesto a exigir que los gobiernos estén a la altura de sus responsabilidades, y llamamos a los ciudadanos a hacer suya nuestra lucha, en valorar la carrera médica y en defender unos servicios sanitarios accesibles, universales, robustos y calidad, con el ejercicio de la medicina centrado en las necesidades reales de los ciudadanos y políticas de salud pública eficientes.

Irresponsabilidade de Manuel Pizarro agrava o caos em todo o SNS

Com um governo dividido entre a gestão e a propaganda, sobra-nos um Serviço Nacional de Saúde (SNS) em colapso, seja nas urgências seja na generalidade dos serviços que continuam com limitações extremas e potencialmente graves para médicos e utentes.

Como no sábado o Hospital de Santarém tinha o bloco de partos fechado, uma jovem de 17 anos teve que ir fazer o seu parto a Abrantes, a mais de 70 km. Como a gravidez não era de risco, felizmente tudo correu bem. Manuel Pizarro defendeu-se dizendo que se tratou de uma situação pontual, mas quem está diariamente no SNS sabe que isso não corresponde à verdade.

Continuamos com dezenas de serviços de urgência (SU) encerrados de norte a sul do país, entre Leiria e o Algarve, quando falha o Hospital São Francisco Xavier, as únicas hipóteses que têm para a urgência obstétrica são a Maternidade Alfredo da Costa e o Hospital de Cascais. Fora da Ginecologia-Obstetrícia, o mesmo se passa em vários serviços, na Pediatria, Cirurgia Geral, Ortopedia, Anestesia e Medicina Interna, com particular gravidade com o encerramento das vias verde do AVC em Viana do Castelo, na Guarda, em Santarém, em Almada e em Setúbal,  e a via verde coronária em Leiria. Lisboa e Vale do Tejo são a zona do país com maior número de SU encerrados e com doentes internados nos corredores dos hospitais. 

Além das unidades encerradas há ainda aquelas que estão a funcionar abaixo dos parâmetros definidos pela Ordem dos Médicos, insuficientes para dar uma efetiva assistência à população. Exemplo disso é o Hospital Fernando Fonseca, onde frequentemente a equipa de medicina interna apenas tem 4 médicos escalados, e em que apenas dois são especialistas. Estas equipas abaixo dos mínimos, são frequentemente responsáveis por assegurar cuidados a cerca de 200 doentes no serviço de urgência, que se somam aos cerca de 300 doentes internados. Esta realidade repete-se um pouco por todos os serviços. É isto que o MS considera ser um funcionamento normal e em rede? É a isto a que Manuel Pizarro chama  resposta plena do SNS?

A sorte tem sido esta a única aposta do ministro Manuel Pizarro e do Governo para lidar com o colapso do SNS, e nós, médicos, não confiamos na sorte para os nossos doentes, confiamos na nossa força de trabalho e na competência técnica. 

Com um mau acordo  e com um novo regime de trabalho, a dedicação plena, que fere princípios básicos da Constituição, o Ministério da Saúde vai ser  incapaz de fixar e recuperar médicos para o SNS. Manuel Pizarro prefere, ao invés, gerar dúvidas falaciosas sobre a aplicabilidade de eventuais tabelas remuneratórias, procurando criar ruído para desviar do foco as evidentes insuficiências do SNS, depauperado de médicos.

Face à propaganda e à bazófia do Ministro da Saúde e do Governo, cabe-nos esclarecer que todos os médicos, sindicalizados ou não, terão os seus salários aumentados em janeiro. Cada vez que o Manuel Pizarro insiste no contrário é constrangedor, porque revela, além do despeito pelos médicos, um profundo desconhecimento da Lei que garante que para trabalho igual, salário igual.

Lamentamos a perda que o país sofreu neste ano e meio, resultado de políticas incompetentes de um Ministro que não percebe de saúde e que falhou ao SNS, aos médicos e aos utentes. O governo escuda-se no facto de estar em gestão para não assumir as suas responsabilidades, mas não lhe falta legitimidade para se desdobrar em inaugurações apressadas em cada esquina.

A FNAM vai continuar a lutar por salários justos e melhores condições de trabalho, para todos os médicos, e a lutar por um SNS público, universal, acessível e de qualidade, realidade que só se garante com médicos, os médicos de e para toda a população.

Esclarecimento Jurídico

 Esclarecimento Jurídico

sobre a aplicação de valores remuneratórios: atualização com a publicação do Decreto-Lei nº 137/2023, de 29 de dezembro

  1. Os novos valores remuneratórios a vigorar a partir de 01.01.2024, aplicam-se a todos os médicos especialistas e a todos os médicos internos, sindicalizados ou não, que trabalham no SNS.
  2. Aplicam-se, portanto, a todos os médicos especialistas e a todos os médicos internos, de todas as áreas profissionais, filiados nos Sindicatos que integram a FNAM. 
  3. Tal aplicação, por referência aos médicos da carreira especial médica (CTFP), decorria da publicação do Decreto Regulamentar n.º 51- A/2012, de 31/12, em vigor, até 31/12 que procedia à identificação dos níveis remuneratórios da tabela remuneratória dos trabalhadores médicos integrados naquela carreira em regime de 40 horas de trabalho semanal.
  4. Com a publicação do Decreto-Lei nº 137/2023, de 29 de dezembro foi revogado o artigo 17º e 18º nº 1 do Decreto-Lei 177/2009, atualizado (diploma da carreira especial médica) que determinava a obrigatoriedade da publicação das tabelas remuneratórias através de decreto regulamentar e bem assim, o artigo 18º nº1 que estabelecia as posições remuneratórias para cada categoria.
  5. Com a publicação do Decreto-Lei nº 137/2023, de 29 de dezembro foi também revogado o anexo I do Decreto-Lei 177/2009 relativo às posições remuneratórias.
  6. Quanto aos médicos da carreira médica (CIT), as respetivas posições remuneratórias e remunerações são fixadas em IRCT no BTE, n.º43, de 22/11/2015, artigo 46º (posições remuneratórias iguais às publicadas no Decreto-Lei 177/2009, para a carreira especial médica) e 54º (aqui concretizando os níveis remuneratórios por referencia à TRU) do ACT concretizado pelo Anexo II.
  7. As remunerações dos médicos em CIT, fixadas em IRCT, para as diversas categorias e áreas profissionais, são iguais às remunerações dos médicos em CTFP, conforme cláusula 54ª nº 2 do ACT.
  8. Os médicos em CIT, não sindicalizados, auferem a mesma remuneração dos médicos em CIT, sindicalizados, apesar de não estarem abrangidos pelo IRCT em vigor.
  9. O Decreto-Lei 176/2009, de 4 de agosto (carreira médica) previa e prevê na cláusula 16ª que as posições remuneratórias e as remunerações dos trabalhadores integrados na carreira médica são fixados por IRCT.
  10. Os novos valores remuneratórios objeto do acordo "intercalar" continuam a não ser conhecidos, mas apenas as novas tabelas publicadas no Decreto-Lei 137/2023, de 29 de dezembro.
  11. Realça-se que quer para a carreira médica, quer para a carreira especial médica os níveis e posições remuneratórias por categoria estavam fixados apenas para o regime de tempo de trabalho das 40 horas.
  12. O Decreto-Lei 137/2023 cria um conjunto de novas estruturas remuneratórias, com posições e níveis remuneratórios diferentes por categoria e regimes de tempo de trabalho revogando implicitamente, toda a legislação dos regimes transitórios das 35 horas em regime de tempo completo, 35 horas em dedicação exclusiva e 42 horas em dedicação exclusiva.
  13. Os regimes transitórios supracitados beneficiam de disposições legais próprias, com suplementos e forma de construção dos respetivos níveis remuneratórios que são afastados com este novo diploma violando os direitos adquiridos dos trabalhadores médicos e estabelecendo um novo regime remuneratório para regimes transitórios.

29 de dezembro de 2023

O Departamento Jurídico da FNAM

Métricas de desempenho não defendem os utentes

A regulamentação do índice de desempenho da equipa (IDE) multiprofissional das unidades de saúde familiar (USF) foi publicada através da Portaria n.º 411-A/2023, no dia 5 de dezembro, e confirma as preocupações que a FNAM sempre manifestou relativamente à impossibilidade e à imoralidade de cumprir algumas das metas definidas, em que parte delas não dependem da prática clínica, mas de critérios economicistas. É uma ingerência que condiciona o ato clínico, cujo único critério deveria ser técnico e não de natureza pecuniária e que coloque a saúde da população em risco.

A Portaria confirma assim a ingerência do Ministério da Saúde (MS) na prática clínica, insistindo na ideia inominável, desprovida de ética médica, de ter como meta o número de receitas prescritas ou de outros Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT), cujo seu cumprimento passa a interferir nos salários, o que é, simplesmente, inaceitável. Além disso, esses dois indicadores têm um peso excessivo no global dos 45 indicadores, pesando 20% do IDE. Por outro lado, só há lugar a pagamento desse incentivo se houver cumprimento de 60% do IDE, tendo sido colocadas metas muito difíceis de atingir.

A FNAM está e esteve, desde sempre, envolvida na criação, melhoria e generalização das Unidade de Saúde Familiar (USF), capazes de proporcionar os melhores cuidados e de garantir um maior acesso e que, por isso, são a pedra basilar no qual o SNS assenta e o garante da universalidade de cuidados a todos os utentes, independentemente da sua condição sócio-económica.

Por isso mesmo, não nos resignamos e lutamos para conseguir fazer a revisão do DL 73/2017, o decreto-lei que regulava o funcionamento das USF, de forma a torná-lo mais adaptado às exigências do trabalho das equipas, nomeadamente dos médicos, e que permita a conciliação do exercício profissional com a vida pessoal e familiar dos médicos.

O objetivo é melhorar e assegurar a substituição do médico, sempre que este tenha que se ausentar, para poder cumprir os seus direitos e deveres da parentalidade, para melhorar os seus conhecimentos académicos, ou em caso de baixa médica prolongada.

De forma a minimizar o impacto negativo da legislação imposta pelo MS e pelo Governo no funcionamento das USF, a FNAM tinha proposto que o peso da acessibilidade e da prestação de cuidados assistenciais no IDE aumentasse, em detrimento do peso relativo dos custos com a saúde da população, que deveria ter uma ponderação nula.

A FNAM propunha ainda que a contratualização trienal do IDE fosse feita em conjunto com as associações sindicais e a inclusão de um índice de ponderação que considerasse fatores externos que pudessem influenciar o IDE e que não fossem da responsabilidade da equipa, como a ausência de profissionais, incumprimento por parte do ACES/ULS/entidades convencionadas ou com acordos com o MS, entre outros exemplos.

As propostas da FNAM não foram, uma vez mais, incorporadas pelo Ministério de Manuel Pizarro, que se mantém refém de métricas economicistas e é responsável por fragilizar uma forma de organização dos Cuidados de Saúde Primários que beneficia os utentes e os seus profissionais. Combatendo a fragmentação e a divisão que o MS e o Governo têm instigado, a FNAM não deixará nenhum médico para trás, defenderemos os nossos direitos e continuaremos a lutar pelo futuro do SNS.

Webinar para médicos hospitalares

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) organiza mais uma sessão de esclarecimento sobre o Decreto-Lei da dedicação plena e a sua aplicação para médicos hospitalares, que conta com a participação do serviço jurídico da FNAM, de forma a que todos os colegas tenham conheçam a realidade legislativa e que colocam as suas dúvidas e questões sobre o assunto.

O webinar, aberto a todos os médicos, tem lugar na próxima terça-feira, 12 de dezembro, pelas 21h00, e pode ser acedido aqui e no site do SMZS.

A Saúde Pública não pode ficar para trás

A pandemia COVID-19 revelou de forma inequívoca a importância de uma Saúde Pública forte, capaz de responder aos desafios emergentes e garantir a proteção de toda a população, mesmo em cenários de crise sem precedentes. No entanto, o Ministério liderado pelo Dr. Manuel Pizarro parece ter esquecido rapidamente a relevância desta área, demonstrando uma preocupante desconsideração pelos médicos de Saúde Pública e pelas necessidades críticas que a pandemia colocou a descoberto.

A Federação Nacional de Médicos (FNAM), a par da justa valorização da remuneração e das condições de trabalho para todos os médicos e da recusa do novo regime de dedicação plena, que obriga os médicos de Saúde Pública a um regime de disponibilidade permanente não remunerado, com eliminação do suplemento de 800 Euros, reivindica um conjunto de medidas para a Saúde Pública, com vista à garantia da vigilância das ameaças e proteção da saúde e bem-estar de todos os cidadãos:

  • Contratos de trabalho em funções públicas com período normal de trabalho semanal de 35 horas num regime de isenção de horário, adaptável às necessidades do serviço e que respeite o limite semanal de horas de trabalho e descansos obrigatórios;
  • Exercício da função de Autoridade de Saúde, em exclusivo, por médicos de Saúde Pública, dado o conhecimento específico e a formação especializada destes profissionais;
  • Justa e digna remuneração pela responsabilidade inerente ao regime de Disponibilidade Permanente, correspondente a 40% do ordenado base;
  • Alargamento do regime de Disponibilidade Permanente a todos os médicos de Saúde Pública, independentemente do local onde exerçam funções públicas;
  • Encurtamento do tempo necessário para a aposentação e aumento da pensão de reforma, com acréscimo de 25% no tempo de trabalho considerado para efeitos da aposentação e consideração do suplemento remuneratório do regime de Disponibilidade Permanente para efeitos de fixação da respetiva pensão;

Estas medidas demonstram o compromisso da FNAM em defender e valorizar os direitos e as condições laborais dos médicos de Saúde Pública em Portugal, garantindo que a sua dedicação e esforço são reconhecidos, e que as suas funções se realizam em condições de sustentabilidade e que permitam o melhor serviço à população.

A FNAM não desistirá de lutar por melhores condições de trabalho para todos médicos e por um SNS universal, público, acessível e de qualidade para todos os cidadãos. Estaremos, como sempre, ao lado dos médicos e da população, na defesa intransigente de uma Saúde Pública de excelência em Portugal, como estão os cerca de 200 médicos de Saúde Pública que assinaram uma Carta Aberta dirigida ao Ministro da Saúde.

NOTA: Decorre hoje um webinar sobre o Decreto-Lei da dedicação plena para os médicos de Saúde Pública, que conta com a participação do serviço jurídico da FNAM, de forma a que todos os colegas tenham conheçam a realidade legislativa e que colocam as suas dúvidas e questões sobre o assunto. O webinar, aberto a todos os médicos, começa às 18h00, e pode ser acedido aqui e no site do SMZS

Webinar para SP

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) organiza um webinar sobre o Decreto-Lei da dedicação plena para os médicos de Saúde Pública, que conta com a participação do serviço jurídico da FNAM, de forma a que todos os colegas tenham conheçam a realidade legislativa e que colocam as suas dúvidas e questões sobre o assunto.

O webinar, aberto a todos os médicos, tem lugar na próxima quarta-feira, 6 de dezembro, pelas 18h00, e pode ser acedido aqui e no site do SMZS

Mais vagas sem condições não vão salvar o sns

O aumento do número de vagas para especialistas sem melhorar as condições de trabalho e as tabelas remuneratórias, nada resolve no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Para fixar médicos no SNS o Governo sabe o que é preciso, mas escolheu não o fazer.

Os ⁠médicos do SNS tinham expectativa num bom acordo com o Governo, que melhorasse efetivamente as condições de trabalho e atualizasse de forma justa a tabela salarial, mas isso não aconteceu e continuamos a ser dos médicos mais mal pagos a nível europeu e com condições de trabalho cada vez mais degradadas. Assim, e à semelhança do que testemunhamos nas vagas abertas para o internato médico, onde um quinto das 2 mil vagas ficaram por preencher, é pouco provável que as vagas abertas para os especialistas encontrem os candidatos necessários para suprir as carências no SNS. Os recém-especialistas vão continuar a sair do SNS para a emigração, setor privado, ou como prestadores de serviço para o próprio SNS.

Relativamente às especialidades, não se percebe como em áreas tão carentes como a anatomia patológica, medicina física e reabilitação e medicina do trabalho não foram abertas quaisquer vagas, entre outras. É igualmente inaceitável que, ao contrário da Medicina Geral e Familiar e da Saúde Pública, a contratação a nível hospitalar, vá ser direta, sem qualquer concurso ou escrutínio, ficando ao critério de cada instituição ou diretor de serviço. Este método é discricionário, desprovido de regras justas, transparentes e que garantam a equidade.

Por fim, os jovens especialistas sabem que os espera um novo regime de trabalho, a dedicação plena, publicada sem o acordo dos médicos e que obriga a mais 4 meses de trabalho/ano que os resto dos profissionais, que inclui 40h de trabalho normais, o aumento do trabalho suplementar para 250h/ano, o aumento medieval da jornada diária para 9h/dia, o fim do descanso compensatório e o trabalho ao sábado para quem não faz urgência, que a FNAM está a contestar a nível do Constitucional e da Comissão Europeia.

Este governo tinha condições, e por isso a obrigação, de resolver a situação da falta de médicos no SNS. O que sobrou em disponibilidade orçamental faltou em vontade política, pelo que as políticas de Saúde do Ministro Manuel Pizarro deixam o SNS num estado lastimável, unicamente por sua responsabilidade.

A FNAM continua a luta por melhores condições de trabalho e por salários justos para todos os médicos, especialistas e internos, em todas as áreas profissionais, bem como por concursos justos e transparentes. Não deixaremos ninguém para trás, pois os médicos do SNS são os médicos de toda a população.

Mau acordo não está capaz de resolver os Serviços de Urgência

Uma das razões pelas quais a FNAM considerou a proposta do Governo um mau acordo para os médicos é porque ele também não seria capaz, por falta de médicos, de resolver a crise nos serviços de urgência (SU) de norte a sul do país.

O Governo, em comunicado oficial de 28 de novembro, deu conta que iria proceder a uma atualização salarial para todos os médicos, internos e especialistas. Mesmo sendo valores baixos e incapazes de fixar e recuperar médicos para o SNS, são para todos os médicos, cumprindo a Lei de que para trabalho igual correspondem direitos iguais. As tabelas remuneratórias são comuns a todos os médicos, aplicam-se a todos os sindicalizados ou não sindicalizados, internos ou especialistas, em contrato de trabalho em funções públicas ou com contrato individual de trabalho no SNS.

Entendemos que a questão sobre a aplicabilidade das tabelas remuneratórias é um “não assunto”, que gera ruído para desviar do foco da evidente insuficiência deste mau acordo para os médicos, mas acima de tudo para o SNS, que vai continuar sem capacidade de fixar e recuperar médicos para as suas fileiras.

A proposta do governo contempla valores longe da reivindicação inicial, incapazes de recuperar o poder de compra perdido pelos médicos ao longo dos últimos 12 anos de salários congelados. E, note-se, nem sequer são os 14,6% propagandeados pelo Governo, pois já estão incluídos os 3% de aumento atribuídos aos trabalhadores da administração pública. Na prática, estaremos perante aumentos que variam entre os 12% e 3%, que representam pouco mais de 200€ líquidos mensais. Além disso, tratam-se de aumentos discricionários, consoante o regime de trabalho e a antiguidade, falhando na equidade que teriam que ter para serem justos.

Tudo isto, num quadro onde o Governo se recusou a negociar as condições de trabalho, limitando o acordo à questão salarial, e deixando cair questões tão importantes como a reposição das 35h, as 12h de SU e a recuperação dos dias de férias retirados pela troika. De resto, o facto de dezenas de hospitais continuarem com os SU condicionados ou encerrados, de norte a sul do país, é demonstrativo da falta de calibre e dedicação política ao SNS e acesso universal à Saúde que a proposta do Governo representa.

Para agravar esse quadro, ainda hoje tivemos a notícia do encerramento do SU de Ginecologia-Obstetrícia do Hospital de São Francisco Xavier, o que deixa toda a região entre Leiria e o Algarve apenas com os SU de  Ginecologia-Obstetrícia no Hospital de Cascais, Hospital Fernando da Fonseca, e a Maternidade Alfredo da Costa, realidade inédita até aqui e de extrema gravidade.

A FNAM vai continuar a lutar por salários justos e melhores condições de trabalho, para todos os médicos, e a lutar para que continuemos a ter um SNS público, universal, acessível e de qualidade, realidade que só se garante com médicos, os médicos de e para toda a população.

A FNAM vai ainda contestar o decreto-lei do novo regime de trabalho, a dedicação plena, até às últimas instâncias nacionais, no Parlamento Europeu e na Comissão Europeia, posto que representa um retrocesso laboral repleto de inconstitucionalidades.

Este Webinar será dedicado ao esclarecimento sobre Decreto Lei das Unidades de Saúde Familiares (USF).

Contaremos com a participação do departamento jurídico da FNAM, para que todos os colegas tenham consciência da realidade legislativa e coloquem as dúvidas que tenham sobre o assunto.

O webinar terá lugar na próxima terça-feira, dia 5 de dezembro, a partir das 21h00. 

O link para aceder ao webinar está disponível aqui e no site do SMN.

Como recusar a dedicação plena?

Após termos recebido inúmeros pedidos de apoio para como manifestar a intenção de recusa à adesão ao regime de Dedicação Plena (DP), o Departamento Jurídico da FNAM está a ultimar um conjunto de FAQ's relativas ao tema, e disponibilizar minutas de declaração de oposição à aplicação do regime de DP adaptadas a cada área profissional, que deverão ser posteriormente preenchidas e enviadas aos respectivos Conselhos de Administração ou Direções Executivas dos ACES. De modo a que nos seja possível saber quantos médicos recusam aderir a este regime, pedimos que a declaração seja também enviada para Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar., ou para cada um dos sindicatos integrantes da FNAM (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar. e Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.). A FNAM irá contabilizar o número de declarações submetidas*.

A FNAM apoiará os médicos que manifestem essa intenção, uma vez que apesar de “voluntária”, é obrigatória para a Saúde Pública, Diretores de Serviço ou de Departamento, Centros de Responsabilidade Integrados e Unidades de Saúde Familiares (USF), o que poderá levar os médicos a decidir pela não adesão ao regime da DP.

A DP é um regime de trabalho, publicado sem acordo dos médicos, no dia 7 de novembro (Decreto-Lei n.º 103/2023), que é abusivo e desregulamentado em termos laborais, com matérias que considerarmos inconstitucionais como o aumento da jornada diária para 9 horas, o limite anual do trabalho suplementar para 250 horas, o fim do descanso compensatório depois do trabalho noturno, e trabalho ao Sábado para médicos hospitalares que não fazem urgência. Para os médicos de Saúde Pública, obriga a um regime de disponibilidade permanente não remunerado, com eliminação do suplemento de 800 Euros.

Faremos ainda um apelo à fiscalização abstrata da Constitucionalidade do diploma ao Presidente da República, Procuradoria-Geral da República e Provedoria de Justiça. Enviaremos igualmente aos Grupos Parlamentares um pedido para que aprecie o diploma em causa, distinguido a matéria do regime de trabalho da DP da matéria da organização e do funcionamento das USF e dos CRI. A avaliação parlamentar será pedida apenas, e exclusivamente quanto ao regime do tempo de trabalho da DP.

Por fim, questionaremos formalmente a Comissão Europeia relativamente ao incumprimento das diretivas europeias do direito do trabalho.

*Os dados disponibilizados não serão divulgados, guardados ou cedidos a terceiros para qualquer ou fim, nos termos do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados.

MINUTAS DE DECLARAÇÃO DE OPOSIÇÃO À APLICAÇÃO DO REGIME DE DEDICAÇÃO PLENA

PARA A DIREÇÃO DE SERVIÇOS OU DEPARTAMENTOS HOSPITALARES 

PARA OS (ATUAIS) MÉDICOS DE SAÚDE PÚBLICA 

PARA OS (NOVOS) MÉDICOS DE SAÚDE PÚBLICA

PARA AS UNIDADES DE SAÚDE FAMILIAR

PARA OS CENTROS DE RESPONSABILIDADE INTREGRADA (CRI)

Cessar-fogo

Ninguém deve ficar indiferente, e nós, médicos, não ficamos. A generalização dos conflitos militares, um pouco por todo o mundo, está a banalizar o sofrimento humano e, pior ainda, está a normalizar a ideia de que o terreno médico e hospitalar pode ser usado como palco da guerra. Não pode. Dizem as Convenções que nos defendem de uma lógica militar onde vale tudo, até fazer de ambulâncias, hospitais, médicos e vítimas, alvos das guerras que se têm multiplicado. Por fim, solidarizamo-nos com todos os médicos que trabalham em teatros de guerra e apelamos ao cessar-fogo.

Mariupol e Gaza, na Ucrânia e na Palestina, são os casos mais recentes, mas na curta vida do século XXI já testemunhamos a brutalidade da guerra no Afeganistão, no Iraque, no Líbano, na Geórgia, na Líbia, na Síria, no Iémen, na Arábia Saudita, na Tunísia, na Turquia, no Níger, no Azerbaijão, no Uganda, na República Democrática do Congo, nos Camarões, no Paquistão e na Etiópia. Se fizéssemos o mesmo exercício sobre o século XX, esta lista seria penosa e interminável.

No Hospital Pediátrico de Mariupol, no Oblast de Donetsk, e recentemente no hospital Al-Shifa, na cidade de Gaza, são dois exemplos que não devíamos nomear e que não deviam ter acontecido, à luz de todas as Convenções que colocam limites à barbaridade da guerra. Em todos esses locais onde a força das armas tem impedido a paz, a Saúde é a primeira vítima e, com ela, ambulâncias, hospitais, médicos e demais profissionais da Saúde, que dão tudo de si arriscando a sua própria vida para salvar quem possa ser salvo, são considerados alvos militares e tratados como tal sem qualquer pudor.

Não foi preciso esperar pela segunda, terceira e quarta Convenção de Genebra para que, desde a primeira, em 1864, se tenha estabelecido a ordem de respeitar e cuidar dos militares feridos ou doentes sem discriminação, bem como proteger as ambulâncias e os hospitais de todo ato hostil. Para o efeito foram estabelecidas quatro regras: “a imunidade de captura e destruição de todos os estabelecimentos para o tratamento de soldados feridos e doentes; a receção e tratamento imparciais de todos os combatentes; a proteção dos civis que prestam socorro aos feridos; e o reconhecimento do símbolo da Cruz Vermelha como meio de identificação de pessoas e equipamentos”.

Na versão da Convenção de Genebra que vigora hoje, os pontos 8, 9 e 10 continuam a ser violados de forma flagrante, e, por isso, fazemos questão de lembrar que “nas áreas de batalha, devem existir zonas demarcadas para onde os doentes e feridos possam ser transferidos e tratados”, “proteção especial contra ataques garantida aos hospitais civis marcados com a cruz vermelha” e que seja “permitida a passagem livre de medicamentos”.

O contrário disto tem acontecido demasiadas vezes, aos nossos olhos, às vezes em direto, e não podemos ficar sem dizer, nem fazer nada. A FNAM, parte de um sindicalismo humanista, repudia os acontecimentos, junta a sua voz aos muitos médicos que, por todo o mundo, têm denunciado a guerra e apelado ao cessar-fogo, e solidariza-se com os colegas que, mesmo transformados em alvos, continuam a fazer o seu trabalho em condições inimagináveis.

As ambulâncias, os hospitais, os médicos e os demais profissionais de saúde, porque estão ao serviço das populações civis, não podem ser considerados alvos sob nenhuma circunstância, pelo que todos os que assim não procedam, independentemente da sua bandeira, ideologia ou credo, devem ser censurados e travados.

Somamos a nossa voz a todos os que têm pedido às organizações internacionais e aos seus governos que abandonem a retórica que alimenta a beligerância, e juntamos a nossa força, mesmo que limitada, aos que lutam para que um mundo, sem o terror da guerra, seja possível.

© FNAM - Federação Nacional dos Médicos